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INTEL: COMPREENDENDO OS EUROPEUS

Em 1999, em grupo de desenvolvimento do Intel solicitou ao People and Pratices Research, da própria Intel, que fosse realizado uma pesquisa junto ao consumidores europeus para determinar características do modo vida domiciliar que fossem relevantes para criação e desenhos de produtos e serviços de informática. No comando da equipe de pesquisa do consumidor encarrega da missão estava Genevieve Bell, uma antropóloga cultural com Ph.D. pela Stanford University.

Segundo Bell, a pesquisa etnográfica foi desenvolvida em cinco países europeus: Alemanha, França, Inglaterra, Escócia e Espanha. Neste países, foram visitado quarenta e cinco lares em pequenas, médias e grandes cidades, procurando entender como as pessoas ocupação o seu espaço doméstico e como estes espaços eram encaixados com a comunidade em geral, sem esquecer de observar quais eram as tecnologias presentes nestes espaços e como eles eram utilizados. No total foram entrevistados mais de cem pessoas, tiradas mais de oito mil foto digitais e recolhido diversos materiais para análise (jornais, catálogos, propagandas, etc.)

Por mais de seis anos, as técnicas de pesquisa etnográfica têm influenciado o desenvolvimento de inovação e tecnologias na Intel, por isso a empresa criou o People anda Pratices Research, que é um grupo de pesquisa, formando por vários cientistas sociais, designers e desenvolvedores, que vêm conduzindo trabalhos de pesquisa nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina.

No caso do estudo coordenado por Bell, foram determinados quatro pontos críticos do domínio cultural europeu: a convivência (togetherness), experiências com os meios de comunicação (media experiences), modelos de consumo (consumption patterns) e a vida fora do lar (life outside the home).

As noções de família e comunidade apresentaram-se extremamente importantes para os europeus. Os entrevistados teriam falado sobre as suas relações no trabalho, sobre tipos de relacionamentos que eles tinham, lugares que eles utilizavam e que tipo de eventos eram emocionalmente importantes para eles. Os modelos apresentados por eles teriam possibilitado compreender como era feita o domínio do espaço, que tipo de atividades eram realizadas nestes espaços e com quem era.

O togetherness se fez presente em toda a pesquisa. No uso do espaço doméstico, verificou-se uma enorme necessidade de "estar junto", ou seja, os grupos familiares sentiam a necessidade de realizar as mesmas atividades, juntos e no mesmo espaço, até mesmo ver televisão, considerados pelos americanos como uma experiência individual, era feito em grupo.

Os europeus, segundo Bell, são constituídos de povos que executam uma infinidade de atividades de lazer: eles pintam, desenham, tocam instrumentos musicais e participação de diversas maneiras da produção artística de seu país. Suas media experiences são intensas. Até mesmo porque isto é muito incentivado pelos governos locais. Na televisão, a predominância é de programas educacionais e culturais. Muitas das televisões estatais européias estão entre os canais mais assistidos.

Bell nos apresenta o caso de Mirabella, uma jornalista de uma pequena cidade costeira da França, aonde ela vive e sustenta os seus três filhos. Antigamente ela possuía televisão a cabo mas decidiu cancelar a assinatura quando percebeu que um dos seus filhos estava passando muito tempo em frente a televisão e estava deixando de fazer os seus deveres. Agora, aos finais da tarde do dia, ela e seus filhos se junto na cama dela para assistirem um filme, que só possui uma interrupção, não há a exibição de comerciais.

Os países estudados possuem uma infinidade de tipos de revistas, jornais, catálogos, guias de televisão, listas de preços. Nestes países você tem uma diversidade enorme de informações que seus habitantes podem consumidor de acordo com os seus desejos. Aliás, segundo Bell, muitos londrinos lêem mais de um tipo de jornal por dia.

Quando eles vão as compras, Bell e seus colaboradores perceberam que esta atividade é realmente uma parte importante do dia-a-dia. Se nos Estado Unidos, as mercearias funcionam vinte e quatro horas para atender os desafortunados ou para compras rápidas, nos países europeus elas funcionam apenas durante o dia, aonde as pessoas fazem pequenas e constantes compras diárias e a relação entre compradores e mercadores é de lealdade, confiança e familiaridade. Este exemplo de consumption habit se dá por causa da importância que se dá ao preparo dos alimentos e a preferência por alimentos frescos, ao contrário dos Estados Unidos que consumem muitos alimentos pré-prontos.

"The marché, or open-air produce market, is an extremely important part os French daily life. In a culture that places high value on preparing, cooking, and consuming food, the act of shopping for foodstuffs is an important one". (Bell, 200)

Aliás, isto altera até mesmo a apropriação do espaço doméstico. Enquanto que nos Estados Unidos a cozinha, além de local de preparo dos alimento, serve também como meio para sociabilização. Já em alguns países europeus, a cozinha é apenas para o preparo, alterando assim as concepções arquitetônicas. Na Europa quase como um todo, o espaço doméstico é bem limitado, o que estaria promovendo o intenso uso dos meios e espaços coletivos para o desenvolvimento das interações sociais.

Life outside of the home é marcada pelo socialização nos jardins, parques, cafés, mercados, tavernas, pubs, bares. Eles se sociabilizam nas ruas, avenidas e centros comerciais. Fora de seus lares eles lêem, conversam, jogam, praticam esportes, paqueram, admiram arte, criam arte, comem, bebem, assistem televisão, dançam, polemizam, nadam, andam e se divertem. Muitas atividades se sobressaltam as olhos da norte-americana Bell, ao verificarmos que várias delas são executadas pelos norte-americanos em casa.

Mas eles fazem uma série de atividades fora de casa, segundo Bell, porque as suas residências são pequenas e estes ambientes servem como extensão de suas próprias casas, criando rotinas geográficas, que variam de acordo com a idade.

Este estudo realizado pela Intel, ajudou aos norte-americanos entenderem que não existe "uma" Europa, pois esta é formada por várias diferentes culturas e tradições nacionais. Isto teve sérias implicações nas estratégias de marketing, desenvolvimento de produtos e no design da Intel, ao entender que o que funciona num lugar da Europa, não vai funcionar, necessariamente noutro.

A razão principal deste estudo estava centrada na criação de utensílios de cozinha computadorizados. O estudo coordenado por Bell apresentou as bases da organização social e espacial doméstica para a empresa, fazendo com que esta criasse equipamentos adequados para o tamanho e uso das cozinhas nos diferentes países europeus. Bell concorda que a prática deste tipo de pesquisa não é rápida e nem é fácil. Mas quando se faz a apropriação correta das informações obtidas na pesquisa, pode gerar bons resultados nos negócios, tornando a tecnologia disponível global, mas respeitando e adaptando-se as culturas locais.


Bibliografia utilizada neste texto:

BELL, Geneveive. Lookking across the Atlantic: using ethnographic methods to make sense of Europe. Intel Technology Journal, (www.developer.intel.com), 2001.


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