MÉTODOS DE PESQUISA DE CONSUMIDOR

 

Segundo Schiffaman e Kanuk (2000), o estudo do comportamento do consumidor é o estudo de como estes tomam as decisões de como vão utilizar os seus recursos, sendo eles financeiros, tempo ou esforço. Procura-se entender o que os consumidores estão comprando, porque estão comprando, quando estavam fazendo isto, onde o fazem e com que frequência compram e utilizam o que compraram. Num mercado em constante movimento e com uma enorme diversidade cultural, a multiplicidade de fatores que influenciam a compra tendem a ser cada vez mais complexos.

O estudo do comportamento do consumidor deu os seus primeiros passos a partir da década de sessenta, fazendo uso de conceitos vindos de outras áreas científicas, como a psicologia para o estudo do indivíduo, da sociologia para o estudo dos grupos sociais e da antropologia para entender a influência que a sociedade exerce sobre o indivíduo, além, é claro, da própria economia.

Quando os profissionais de marketing começaram a notar que os consumidores nem sempre agiam ou reagiam de acordo com as suas teorias, voltaram os seus olhares mais uma vez para o mercado. Observaram um mercado em franco crescimento, aonde os consumidores estavam mudando as suas preferências, diversificando-se.

"À medida que pesquisadores de mercado começaram a estudar o comportamento de compra dos consumidores, logo entenderam que, apesar de uma abordagem de identificação em relação a produtos da onda e da moda, muitos consumidores se rebelavam contra o uso de produtos idênticos aos que todo mundo usava. Ao contrário, preferiam produtos diferenciados que eles sentiam refletir suas necessidades próprias e especiais, personalidades e estilos de vida" (Schiffamn & Kanuk, 2000).

Assim, as empresas adotaram a política de segmentação de mercado, que separava os consumidores potenciais em grupos menores e mais homogêneos, para que pudessem planejar produtos e campanhas promocionais específicas para aquele público-alvo. A segmentação de mercado divide grupos de clientes com necessidades e desejos que são semelhantes. Quando Kotler (1999) cita o exemplo da pasta de dente, ele diz que nos grupos (hipotéticos) que têm o desejo básico de ter proteção contra cáries, um hálito melhor e dentes brancos, as empresas poderiam explorar mais um elemento do que outro, procurando assim tornar-se a marca líder num segmento-alvo. Esta segmentação pode ser por área geográfica (região, cidade, clima), demográfica (idade, sexo, ocupação), psicolágica (motivação personalidade), sociocultural (cultura, religião, classe social), relacionada ao uso (taxa de uso, fidelidade a marca), relacionado ao uso e situação (tempo, objetivo), por benefício ou híbrida (conjunção de vários fatores).

Com a Globalização, o desenvolvimento tecnológico, a taxa de crescimento do desenvolvimento de novos produtos e a busca de novos mercados, as empresas foram obrigadas a utilizar estudos de pesquisa intercultural do consumidor como base para a criação de produtos e estratégias que pudessem atender às necessidades dos "novos consumidores".

Para as empresas elaborarem uma pesquisa em marketing, é necessário seguir alguns passos para que não sejam cometido erros e todo o trabalho de pesquisa seja em vão. O primeiro passo é o levantamento de fontes de informações secundárias, que são aquelas fontes que estão disponíveis no mercado e poderão auxiliar na determinação de como deverá ser feita a obtenção das informações primárias (realizadas diretamente pela empresa). Segundo Marchetti (2000), o passo seguinte é a formulação do problema. Esta etapa é uma das mais importantes, se não for a mais importante. É nesta etapa que precisamos determinar os dados que desejamos saber, determinando os padrões de comportamento, qual a estrutura do mercado e qual é a estrutura existente para a elaboração da pesquisa. Feito isto, seria necessário determinar as técnicas utilizadas na pesquisa, a fim de buscar o melhor custo-benefício para se resolver o problema apontado.

Para determinadas as técnicas, é preciso configurar como será feita a mensuração, pois é necessário estar de acordo com aquelas empregadas para ter um bom grau de confiabilidade das informações obtidas. Com as técnicas selecionadas, faz-se um plano de amostragem, adequando o número de entrevistados a fim de se manter os dados obtidos confiáveis. Por último, mas não menos importante, está a análise dos dados obtidos, na qual a preocupação é organizar e apurar as informações para se entender o seu significado e, assim, ajudar a determinar quais deverão ser os passos traçados pela empresa para compreender bem os seus clientes ou futuros clientes.

Existem dois tipos básicos de pesquisa do consumidor. As pesquisas qualitativas e as pesquisas quantitativas. Enquanto as pesquisas qualitativas, segundo Mattar (1993), procuram identificar a presença ou ausência de algo, as pesquisas quantitativas procuram medir o grau em que algo está presente. Há também diferenças metodológicas entre estas duas formas de pesquisa.

Na pesquisa quantitativa, os dados são obtidos com um grande número de entrevistas e utilizando escalas, geralmente numéricas, as respostas são submetidas à análise estatística. Este tipo de pesquisa pode ser dividida, ainda, em outros dois tipos.

A primeira á a pesquisa quantitativa descritiva, que procura traçar um mapa do público alvo, fazendo levantamentos, por exemplo, de como é o processo de compra, qual é a segmentação do mercado, sobre a utilização ou desejo de novos produtos, posicionamento de uma marca e também graduar o índice de satisfação dos clientes de uma empresa. A segunda é a pesquisa quantitativa que permite que se façam testes sobre o efeito de uma campanha publicitária, sobre as embalagens, preços, entre outras centenas de possibilidades.

Por meio de questionários, que podem ser enviados pelo correio ou respondidos por entrevistados selecionados, a pesquisa quantitativa necessita de profissionais treinados, tanto para o desenvolvimento dos questionários em si, como para a sua aplicação. As perguntas dos questionários podem ser abertas, exigindo que as respostas sejam dadas com as próprias palavras dos entrevistados, ou então fechadas, onde os entrevistados devem escolher as respostas dentro de uma lista de opções pré-selecionadas. As perguntas abertas podem conter muitas informações relevantes, porém sua condificação é difícil, já que os resultados precisam ser expressos numericamente. Com as perguntas fechadas, a tarefa de tabular as respostas fica bem mais tranquila, mas é preciso que o vocabulário utilizado seja elaborado com cuidado para não gerar respostas viciadas.

Para diminuir o risco de cometer falhas durante a pesquisa quantitativa, é recomendado que se faça um pré estudo sobre o que se quer quantificar. Isto é possível por meio das pesquisas qualitativas, nas quais, segundo Schiffman e Kanuk, é necessário que o pesquisador leve em conta quais são os objetivos do estudo e o tipo de informação que se deseja saber.

Na pesquisa qualitativa, que pode ser motivacional ou de observação, são utilizadas três técnicas de coleta de dados: entrevistas em profundidade, grupos de foco e técnicas projetistas. As entrevistas em profundidade necessitam de um profissional treinado, que numa conversa a dois, minimiza a sua própria participação, procurando maximizar o discurso do entrevistado. O entrevistado deve ser estimulado a falar livremente sobre um produto ou marca, enquanto são feitos registros audiovisuais da entrevista, que serão apresentados junto com o relatório, observando a a expressão corporal do entrevistado nos momentos que recebeu os estímulos.

O grupo de foco (ou focus group) é formado por oito a dez pessoas que possuam características em comum, para não provocar a exclusão de um ou outro integrante. Eles são moderados por um profissional encarregado de estabelecer o tema do debate e a sua sequêcia. Os entrevistados são estimulados a falar deles mesmos, de um produto ou marca em questão, suas experiências e suas opiniões. A vantagem do grupo de foco é que num período de tempo curto, ele consegue obter mais informações de um número maior de pessoas.

Já as técnicas projetistas, advindas das técnicas psicológicas, são utilizadas para se saber os motivos fundamentais das pessoas, que podem ser inconscientes e estarem cobertos pelas emoções conscientes. Estas técnica são compostas de uma variedade de testes disfarçados em frases, fotos, desenhos, manchas de tintas. Este método de pesquisa é utilizado quando se acredita que os respondentes não tem consciência dos estímulos gerados pelos seus próprios sentimentos.

A pesquisa observacional é um dos métodos mais importantes na pesquisa do consumidor. As empresas inovadoras reconhecem que este método pode ser o melhor meio para obter a compreensão profunda do relacionamento entre pessoas e produtos. Muitas corporações e agências de publicidade fazem uso do trabalho de antropólogos culturais no desenvolvimento de pesquisas etnográficas do consumidor para observarem e apreenderem os significados dados aos produtos, marcas e sua utilização pelos clientes antes, durante e depois do processo de compra.

Fazendo uso de diversas metodologias de pesquisa, a etnografia analisa o consumidor, antes de mais nada, como um indivíduo inserido dentro de uma realidade socialmente estabelecida, com as suas próprias regras e valores, que revelarão ao pesquisador como os produtos e serviços estão presentes no seu cotidiano e qual a sua importância simbólica na organização social. A seguir, apresento o que é a etnografia, sua origem e a sua forma de trabalho.


Bibliografia utilizada neste texto:

 

SCHIFFMAN, Leon G. & KANUK, Leslie Lazar. Comportamento do consumidor. 6ª ed., Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, 2000.

 

KOTLER, Philip. Marketing para o século XX: como criar, conquistar e dominar mercados. 8ª ed, Futura, São Paulo, 1999.

 

MARCHETTI, Renato. Afinal, o que é a pesquisa em marketing?. Revista Grandes Idéias em Marketing. Quatum, nº 49, ano 5, setembro, 2000.

 

MATTAR, Fauze Najib. Pesquisa de Marketing. Volume 1, Atlas, São Paulo, 1993.


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