O USO SOCIAL DOS COMERCIAIS NA INGLATERRA

Para Ritson e Elliott, as pesquisas sobre o consumidor têm falhado em explicar a importância sociocultural do ato de se consumir, ainda mais em tentar explorar o fenômeno de associação de comerciais e práticas de interação social. Para eles, isto tem ocorrido por vários fatores. O primeiro seria a grande influência dos métodos de pesquisa psicológica têm sobre a pesquisa do consumidor, aonde gera-se análise enfocando apenas o indivíduo.

O segundo ponto é que quando se estuda o comportamento do consumidor, relaciona-se apenas como e quem usa determinado produto. Durante as análise sobre a influência da propaganda, centraliza-se os estudos para o processo de decisão de compra, procurando entender como a propaganda guia para a preferência de um produto. O terceiro ponto seria os pesquisadores da propaganda direcionam os seus esforços para o estudo das mensagens existentes nos comerciais e se o observador "pega" esta mensagem.

Um quarto ponto seria um "problema" epistemológico, aonde as pesquisas são elaboradas seguido preceitos positivistas, sofistas ou empirismo lógico, sugerindo a preexistência de uma realidade. Por último, é que os estudos laboratoriais experimentais utilização uma "metodologia individualista", deixando de lado o contexto social em que o consumidor está inserido. Porém, nos últimos anos, o uso da etnografia nas pesquisas de consumidor estaria permitindo entender o seu comportamento dentro de um contexto social.

"The emphasis on ethonography in other disciplines as the optimum ethod for reader response approach, combined with the application of this method within consumer research to understand the social uses of product, suggested that an ethnographic method wuold be the most suitable approach for this study. (Ritson & Elliott, 1999)

No caso, estes autores decidiram fazer uso da etnografia para compreender como os comerciais têm sido apropriados socialmente. Como objeto de estudo, decidiram por realizar seus estudos com adolescentes pois estes têm demonstrado, particularmente, um grande uso social de uma grande variedade de meios de comunicação popular. O estudo se deu em seis escolas no noroeste da Inglaterra, aonde Ritson1 lecionou voluntariamente sobre mídia durante seis semanas em cada escola. A decisão por se introduzir nestes grupos de adolescentes como professor, se deu por considerar que se a observação se desse em um contato diário, sem qualquer relacionamento com o ambiente aonde estes jovens estariam, provocaria uma grande resistência. Sendo professor, resistência desaparece rapidamente e o pesquisador pode transitar "invisível" pelo grupo estudado.

Durante a pesquisa, Ritson encontrou a presença de uma "base de propaganda" existente no discurso e na interação social dos adolescentes. Esta base ia desde mímicas, jingles de comerciais ou frases de efeito (chavões) presentes nos comerciais e eram observadas durante breves momentos durante as conversas ou mesmo tornam-se o assunto principal das rodas de conversas.

Os comerciais tornam-se para estes jovens ingleses tão importantes como a música, filmes ou programas de televisão. Em seus lares, ao assistirem televisão, eles prestam atenção nos comerciais, pois estes são assuntos de referência no seu círculo de amigos. Para estes jovens, os comerciais deixam de ser absorvido indiretamente e tomam importância. Se tornam mecanismos de troca social, aonde os informantes de Ritson descreveram a necessidade de se conhecer as propagandas "para não ficar de fora das conversas".

"This image of a viewer sitting in front of a television actively out the advertising message completely contradicts the low-involvement conception of the advertising audience characterized by passive absorption and a lack of personal activity" (Ritson & Elliott, 1999)

Os comerciais tornam-se um mecanismo de controle das relações sociais entre estes jovens. Se os jovens conhecem o comercial, possui o conhecimento simbólico para fazer parte dos grupos, enquanto aqueles que não viram o comercial são, potencialmente, excluído do grupo. Mas para isto, é necessário que o observador dos comerciais entenda a mensagem que é passada e o seu significado, pois senão, pode ser vítima de brincadeiras baseadas nestes comerciais. E estas brincadeiras, nada mais são que rituais de interação.

Um exemplo é o comercial do refrigerante de laranja Tango. Neste comercial humorado, o bebedor do Tango é surpreendido por um enorme, obeso e pelado homem pintado de laranja dos pés a cabeça. Procurando transmitir que este refrigerante possui um gosto chocante, este "enorme homem laranja" corre em direção ao bebedor do Tango e lhe dá um forte tapa antes de desaparecer. Esta ação física tornou-se usual nos intervalos das aulas nos pátios e corredores das escolas. Quando um jovem é atingindo por um forte tapa, o agressor diz: "You´ve been Tangoed!". Este comercial tornou-se, segundo Ritson e Elliott, uma representação simbólica física da necessidade de se manter atualizado sobre as campanhas publicitárias, já que as vítimas das ações eram justamente aqueles que não tinham visto o comercial. Este comercial foi banido pela British Independent Televison Commission porque crianças de todas Inglaterra estavam reencenando o comercial.

Outro exemplo citado por Ritson e Elliott é o do Dime Bar. Durante as conversas, quando uma piada é contada, se alguém não entende, logo os outros começavam a gritar :"Dime Bar! Dime Bar!", que significa que estão o chamando de otário ou idiota. Este seria um ritual, ligado as comerciais, que tem por fim isolar membros do grupo que não consegue entender o significado de uma interpretação comunitária.

Estes dois exemplos permitem-nos observar como funciona a migração o texto publicitário para o cotidiano de um grupo social e a absorção deste como mecanismos de agregação, exclusão comunitário quando são agregado a estes uma prática simbólica de interpretação social. Este tipo de pesquisa para as empresas é importante pois apresenta qual está sendo a reação social do público ao comercial. Por exemplo, se aprofundarmos a análise no caso do refrigerante Tango, podemos concluir que provavelmente, após a veiculação do comercial citado por Ritson e Elliott, provavelmente constataríamos que o consumo do refrigerante caiu na faixa etária que foi estudada, já que apenas o consumo do Tango, poderia motivar a encenação do tapa. Mesmo que o comercial tenha tido sucesso na divulgação da marca, o mesmo não gerou resultado positivos devido a forma negativa que foi apropriada e resignificada socialmente.


1 Ritson foi o único que realizou pesquisas com os adolescente.

Bibliografia utilizada neste texto:

RITSON, Mark & ELLIOTT, Richard. The social uses of advertising: an ethnographic study of adolescent advertising audiences. Journal Of Consumer Research, vol. 26, December, 1999.

 


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